A agricultura familiar e o protagonismo que a cidade aplaude
Acostumado a ser protagonista das notícias que só falam em crise e dificuldades para Ilhéus, é uma pena que o prefeito municipal não tenha tido um tempinho em sua agenda para visitar, pelo menos até agora, a Feira da Agricultura Familiar que acontece na cidade. Lá, talvez, pudesse reavaliar os seus conceitos a respeito de como superar crises com humildade, criatividade e trabalho.
É que nesta feira, talvez pudéssemos ver, cara a cara, trocando experiências e informações, o prefeito e os trabalhadores de Vila Retiro. Um local esquecido pelas autoridades onde, por conta da precariedade das estradas vicinais, pequenos produtores chegavam a perder 70 por cento da sua produção agrícola por que não conseguiam escoar sua produção a tempo de chegar a cidade em condições de consumo humano.
E o que eles fizeram? Choraram nada e agiram muito. Vinte e oito familias se uniram em torno do trabalho, formaram um grupo produtivo e venceram as dificuldades de logística, passando a desidratar frutas produzidas em suas pequenas propriedades rurais. Um procedimento que dura, em média, 24 horas, e que garante a validade dos produtos por até seis meses.
O negócio já é um bom negócio. Já dá lucro. Sem ajuda de prefeito nenhum ou governo algum.
Seria emocionante ver a nossa autoridade apertar as mãos talentosas do produtor Walter Borges que das folhas do cacaueiro e da bananeira "inventou" a embalagem que hoje valoriza seus produtos do campo feitos sob encomenda para toda a região.
Também seria bom apresentar ao prefeito experiências como a promovida pelo Instituto Amanhecer, uma entidade sem fins lucrativos que trabalha com crianças e adolescentes expostos à vulnerabilidade social, sem chororô por conta dos parcos recursos ou pela falta de apoio das instituições públicas que tinham o dever de estar protegendo as classes menos favorecidas da sociedade.
Lá se faz o bem com criatividade, boa equipe, ideias inovadoras.
Fórmula simples. Ninguém lá redescobre a roda.
É da caixa de leite longa vida, distribuida pela instituição às famílias carentes do bairro Nelson Costa, de onde se sai a criatividade para a produção de caixas recicláveis de presentes para estudantes e na forma de material de escritório.
É gratificante conhecer este trabalho. É dele de onde saem os recursos para a manutenção de um projeto vencedor.
Para além de encontrar pessoas, talvez fosse bom para a autoridade municipal também saber que, lá, ele não iria encontrar muita gente humilde do campo que, por conta das constantes chuvas que cairam sobre a cidade, nos últimos dias, não puderam comparecer ao evento que eles próprios organizaram porque ficaram atoladas na lama pelo meio do caminho.
O homem do campo é um exemplo a ser sguido de perserverança e determinação.
Deveria servir de espelho para as nossas autoridades, de um modo geral, que, ao invés de testemunhar exemplos como este, preferem ir chorar o leite derramado nos gabinetes de Salvador e Brasília, tudo sempre com pouco suor e muita lágrima.
Ficamos, sinceramente, a nos perguntar por que o prefeito da cidade não compareceu à Feira da Agricultura Familiar de Ilhéus, um encontro de protagonistas com histórias de sacrifício e de superação que merecem o aplauso e o reconhecimento de toda a nossa sociedade.
Terá sido pelo fato de que por lá o seu protagonismo desapareceria no primeiro aperto de mão calejada do homem simples e trabalhador do campo?